Sobre mim

Este blog é tanto um espaço profissional e didático para auxiliar na formação de participantes de cursos e interessados nas áreas de estudos sociais, diversidade e cidadania, como também é um espaço pessoal de opiniões e pensamentos acerca dos assuntos da atualidade.

Sobre o autor

Sou docente de sociologia e antropologia na PUC-SP, no Curso de Administração (desde 2006), ingressando na Carreira como professor Assistente Doutor em 2012. Atualmente, sou também Assistente Especializado da Pró Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias. A docência faz parte da minha vida desde 1992 (UNICID, lecionando sociologia para o curso de Serviço Social). Busco explorar as três dimensões da vida acadêmica: ensino, pesquisa e extensão. Mantenho, desde 2003, o que chamo de Ativismo Social, seja como colaborador e gestor da Escola de Governo de São Paulo (até seu fechamento em 2017), seja em outras inserções, como atividades junto à Pastoral Fé e Política ou à participação na Ouvidoria Geral da Defensoria Pública. Me marcou muito a experiência da Oficina de Teatro para Adolescentes, do Teatro Escola Macunaíma, na virada para os anos 1980, o que ampliou meu interesse por essa Arte instigante e contestadora e pela leitura. Também gosto muito de música, toco violão e canto.

A trajetória profissional e militante se confundem e se misturam. Tomei como regra ético-profissional não distinguir atividades remuneradas e não remuneradas, envidando igual empenho. E percebo que o trabalho voluntário, despretensioso e cotidiano alimentou minha qualificação, me devolveu reconhecimento e relações afetivas e de amizade, contribuindo para o meu aprimoramento pessoal e profissional.

*Aqui você pode acessar meus trabalhos de mestrado e doutorado, além de diversos materiais exclusivamente.

Momentos importantes

Chego ao Brasil e à cidade de São Paulo aos 12 anos de idade com meus pais, duas irmãs e um irmão, vindo do Uruguai, de Montevidéu, descendo na antiga Rodoviária da Luz em plenos anos obscuros do autoritarismo. Estabelecemos residência em São Paulo, onde – afora dois anos inesquecíveis vividos, ainda na adolescência, na extraordinária cidade do Rio de Janeiro – permaneci até hoje. A dúvida sobre me dedicar ao teatro ou à psicologia ou… terminou ao iniciar os estudos de bacharelado em Ciências Sociais em 1985, na PUC-SP, concluídos em 1988.

Ainda durante o período de formação, em 1987 faço meu segundo estágio na ANSUR (Articulação Nacional do Solo Urbano) como Secretário de Comunicação e Informação, auxiliando em estratégias de formação de lideranças populares, me identificando e me voltando para a temática da reforma urbana, da atenção às condições das populações vulneráveis. A participação e o acompanhamento das lutas sociais levou-me a acompanhar os conflitos de interesses e as demandas por direitos coletivos, contra as sistemáticas violações dos direitos fundamentais – característica estrutural e estruturante do País -, encarando-as como características de um processo histórico e cultural de país periférico com profundas marcas do longuíssimo período escravocrata e patriarcal e de pouca vivência efetiva da Democracia.

Em 1995, naturalizei-me brasileiro. Em 1996, concluí o mestrado em Ciências Sociais/Sociologia política, na PUC-SP, com a dissertação intitulada A cidade dividida: um estudo sobre o mercado de trabalho industrial e urbanização na cidade de São Paulo, discutindo as disparidades entre localização dos empregos e da moradia na cidade de São Paulo. A dissertação incorporou experiências do trabalho como auxiliar de pesquisas e pesquisador do Senai, lançando mão de dados ainda pouco usados para pesquisa, elaborados nos levantamentos industriais feitos pela Instituição, referentes aos territórios da cidade de São Paulo. Aprendi muito no Departamento de Pesquisa, na sede do Conselho Regional do Senai (que administra dezenas de escolas técnicas e centros de treinamento no estado de São Paulo), onde permaneci por 10 anos.

Em 2001 Marta Suplicy foi eleita prefeita de São Paulo, e ingressei na Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano (SMHDU), sob a liderança de Paulo Teixeira. Lá integrei o grupo intersecretarial de desenvolvimento dos programas sociais, sob a coordenação do então secretário de desenvolvimento, trabalho e solidariedade, o economista Márcio Pochmann – que escolheu os dez distritos socialmente mais vulneráveis para a formulação e implementação de uma forte estratégia de inclusão social e combate à violência. Foram construídos programas relevantes no período, como programas para a população idosa, programa de renda mínima, Bolsa Trabalho, de empoderamento de jovens, prevenção da violência, economia solidária etc.

Mais adiante fui designado coordenador do Programa Bairro Legal (parceria da SMHDU com Cities Alliance e Banco Mundial), que desenvolveu uma metodologia de intervenção urbana em distritos periféricos, com os subsequentes Planos de Ação habitacional e urbana, em cidade Tiradentes, Jardim Ângela e Brasilândia. O resultado foi a  criação de planos habitacionais e de requalificação urbana participativos em distritos com elevados índices de violência e precariedade habitacional, um esforço de fazer planejamento em nível meso-regional. Foi uma rica experiência, de contato com a ação pública de base local e com movimentos sociais. No distrito da Brasilândia, a experiência de construção de um GT interno do Bairro Legal, que articulou a sociedade organizada, bairros e comunidades, redes de políticas públicas, experiência que obteve o Prêmio Milton Santos na Câmara Municipal. O enfoque dado foi geomorfológico: estudar o território, a hidrografia e a topografia e pensar como estruturar bairros criando condições de sustentabilidade e centralidades dentro da Brasilândia. Já o plano para a Cidade Tiradentes teve um enfoque crítico e amplamente participativo, envolvendo ações de empoderamento juvenil, mais voltado ao planejamento urbano, de analisar as contradições – e soluções – para uma cidade construída pelo Estado distante do centro, de péssima topografia, dificultando a mobilidade e a interação social, que não dava conta do crescimento da população nem da acessibilidade dos habitantes, caracterizado pela ausência desse mesmo Estado, que se faz mais presente pela tão controvertida política de ‘segurança pública’ nas periferias. Todo esse projeto teve coordenação metodológica do LabHab,da FAU-USP, coordenado por Ermínia Maricato e João Whitaker, também responsável pelo desenvolvimento do Plano de Ação para o populoso e complexo distrito de Jardim Ângela, com presença importantes ações voltadas aos enfrentamentos das desigualdades e violências, como as da Associação Santos Mártires, tendo a referência e liderança do Padre Jaime Crowe.

Os trabalhos realizados na Prefeitura e especialmente o programa Bairro Legal me incentivaram e ajudaram a terminar minha tese de doutorado, desenvolvida entre 1997 e 2003. Intitulada Periferia: um estudo sobre a segregação socioespacial na cidade de São Paulo, enfatizando as características e as desigualdades ao longo do processo de formação das periferias urbanas em São Paulo.

Em seguida tive outra experiência significativa: assumi a coordenação executiva da Rede Urbal 10 – Luta contra a Pobreza Urbana, da Comissão Européia/Europe-Aid na Secretaria de Relações Internacionais, um projeto que estimulava projetos envolvendo cidades da América Latina e Europa, desenvolvidos por prefeituras associadas a partir das Conferências Bi-anuais, onde permaneci após a sucessão do novo mandatário municipal, até o encerramento do Projeto, em 2006.

Em 2003, faço o Curso de Formação de Governantes e começa a minha história na Escola de Governo, pequena Associação, fundada e gerida por Fabio Konder Comparato, Maria Victoria Benevides e Claudineu de Melo, ao qual permaneci vinculado até o encerramento das atividades, em 2017.Em 2007, passo a integrar o conselho editorial da Escola e o corpo docente de um curso gratuito realizado por ex-alunos, o Formação Cidadã, que formou mais de 1000 pessoas ao longo de sua existência. Lecionei inicialmente os temas Território e Desenvolvimento Local e Segurança Pública. Foram 14 anos de dedicação voluntária, acompanhando e auxiliando as turmas semestrais da Escola e contribuindo com a sua gestão. Em 2011, um grupo de ex-alunos assumimos, sob a coordenação geral de Xixo/Maurício Piragino, com o apoio e assessoria permanente dos sócios fundadores, a gestão da Escola, iniciando uma nova etapa, mantendo as atividades dos cursos Formação de Governantes e Formação Cidadã. A Escola obtêm o certificado de Oscip e desenvolve faz alguns cursos livres, como duas edições sobre “O pensamento político de Hannah Areendt”, e faz parcerias com o Poder Público Municipal para formação de servidores públicos em cidadania e direitos humanos. Nesta etapa fui membro-associado e conselheiro deliberativo da Escola de Governo, que, para mim significou uma experiência de formativa de trabalho participativo e dialógico tendo sempre como referência os cinco pilares da Escola de Governo: democracia participativa, os valores republicanos, a constante defesa dos direitos humanos, o desenvolvimento nacional, em todos seus aspectos, e a ética.

A educação para os direitos humanos, especialmente na Escola de Governo, me permitiu participar da formação de inúmeros cidadãos e ativistas sociais, atuação que se estendeu para outras Escolas de Cidadania e de Fé e Política e iniciativas.

Em 2007 ingressei na Comissão Justiça e Paz, onde participei da organização e do desenvolvimento do NECIDIH (Núcleo de Estudos em Cidadania e Direitos Humanos), idealizado pela inesquecível Josephina Bacariça, então Secretária Executiva da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, presidida pelo Desembargador Antonio Carlos Malheiros. Nossa primeira ação foi um mini “Curso de educação para a cidadania e os direitos humanos”, para estudantes e militantes de movimentos sociais, na PUC-SP. Através da Comissão Justiça e Paz conheci e vinculei-me à Pastoral Fé e Política, onde coordenei o Curso anual de Extensão em Fé e Política, nas Faculdades Claretiano (2008).

Em 2008, o casal Márcia e Flávio Castro, que tivera a oportunidade de conhecer nestas ações de formação, junto à Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo e a um grupo pastoral da região do Belém, estruturam a Escola de Fé e Política Waldemar Rossi, no Belém. Pude participar desse processo, coordenado e inspirado pela iluminadora presença de Waldemar Rossi, mantendo participação como assessor e docente. Até hoje, a Escola de Fé e Política mantém um curso anual com turmas compostas por militantes interessados nas causas sociais e na participação social para garantia de políticas públicas que reduzam as brutais desigualdades encontradas na cidade de São Paulo e arredores.

A partir de 2008 passei a atuar também na área de segurança pública, como consultor do Ministério da Justiça, na implementação do Pronasci – Programa de Segurança Pública com Cidadania, auxiliando nas relações institucionais com os governos estadual e com diversos municípios conveniados ao Programa , na implementação de ações intersetoriais de prevenção à violência. Posteriormente (2013/14) atuei também como consultor na implementação do Plano de Enfrentamento à Violência contra a Juventude Negra, o Juventude Viva. Importante ênfase tem, nesse campo, a luta contra a violência institucional do Estado contra os jovens negros e contra o racismo, e a luta pela inclusão educacional e no mercado de trabalho de jovens negros.

Entre 2012 e 2016 integrei o Conselho da Ouvidoria Geral da Defensoria Pública, como um dos representantes da sociedade civil organizada de São Paulo, contribuindo em alguns projetos na defesa da escuta da sociedade na construção do acesso e da democratização da Justiça.

Ciente de que “a cabeça pensa o lugar em que os pés pisam”, como ensina o Padre Jaime, e também que “gente simples fazendo coisas pequenas em lugares pouco importantes consegue mudanças extraordinárias”, sempre busquei atuar em proximidade com as lutas sociais urbanas.

A partir de 2018, fui indicado para assessorar a Pró-Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias da PUC-SP, onde continuo como assistente especializado. Uma atuação de extensão que se destaca é o Projeto desenvolvido na Pro Reitoria de Cultura e Relações Comunitárias “Jovens Pesquisadores Sociais, no segundo semestre de 2019. Nessa direção, busco ampliar essas reflexões e a pesquisa em Gestão Social, especialmente no Núcleo de Estudos Avançados do Terceiro Setor, da PUC-SP, procurando contribuir para o fortalecimento das Organizações da Sociedade Civil, especialmente daquelas que se dedicam à atuação junto a populações vulneráveis.

Outra ênfase de pesquisa, iniciada em 2016, decorre da atuação desde 2006 no Curso de Administração, aprofundada após o ingresso na carreira acadêmica como Assistente Doutor, em 2012. Trata-se da questão da Gestão da Diversidade, muito vinculada à área de Gestão de Pessoas, à inclusão social e à equidade nos espaços de prestígio e poder. Pude desde então desenvolver projetos de pesquisa, de iniciação científica e de educação continuada, trazendo as questões da equidade em relação a segmentos sociais como negros, mulheres, pessoas com deficiência.

Em paralelo e convergente, participei da tramitação e aprovação pela PUC-SP do Pacto de Inclusão de Jovens Negras e Negros no Mercado de Trabalho, em 2018, que integra uma estratégia do Ministério Público do Trabalho, por meio da Coordenação de Igualdade, de mobilização da sociedade civil e do setor empresarial, com ênfase nas grandes organizações da economia, com destaque especial para os campos da Publicidade e dos escritórios de advocacia para a inclusão de jovens negras/os. Desde então participo da Coordenação do Fórum de Combate à Discriminação Racial no Trabalho/SP. Um dos desdobramentos dessa atuação foi a articulação de Instituições de Ensino Superior (IESs) para o combate às desigualdades étnico-raciais no mercado por meio do desenvolvimento da Feira AfroPresença, ainda em planejamento visando desenvolver a AfroPresença Digital.

Os acontecimentos políticos da conjuntura iniciada em 2014 tem influenciado muito em meu compromisso com a cidadania ativa, trazendo para o centro de minha reflexão as políticas públicas, especialmente após a mudança radical do poder político, a partir do controvertido ‘impeachment’, e dos sucessivos desdobramentos políticos que levam à eleição do atual Presidente da República e seu lastimoso governo.

Esse cenário configura uma situação dramática de tensionamento do estado democrático, desconstrução do tecido econômico soberano e de brutal transição da sociedade do trabalho para um regime de amplíssima precarização e de generalizado empobrecimento (ainda que os mais ricos progridam a taxas elevadas), que desconstitui avanços importantes construídos nas últimas décadas.

A partir do advento da pandemia, a minha reflexão acadêmica e ativista tem priorizado e se reapropriado de discussões no sentido de uma sociologia e uma política da cidade, da segregação socioespacial, procurando interagir com os territórios da vida concreta da maioria da população da cidade, atravessada por processos que põem em xeque a sustentabilidade social da vida nesses territórios.

Prêmios

Integrei a equipe que recebeu “Prêmio Milton Santos” em junho de. 2004,: “Brasilândia: Construindo um Bairro Legal

Pedro Aguerre recebe prêmio destaque migrantes latino americano

Menção Honrosa Prêmio Milton Santos – Escola de Governo (2014)

 Do Lado de Lá: entrevistas com Pedro Aguerre para a Casa da Comunicação 

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